9.11.14

Existe em mim um pequeno receio de sentir aquilo que não sinto. Ou aquilo que fingo não sentir. Desta vida já nada mais espero, apenas sento-me e desespero pelo inesperado. Já me afundei no abismo mil e trezentas vezes e não gosto. É frio e escuro lá em baixo. Ou lá e cima. E por onde andei, encontrei alguém mais enterrado que eu, e então calei-me. Nunca teria pensado sobre isto até à altura. Deste lado consigo ver rostos sem sentidos e almas vazias. Receio sentir aquilo que não sinto. Aquilo que observo do outro lado da lua, e me consome a vista de tanta mágoa profunda existente em corpos fracos e estilhaçados. E cega. Por fim acabo por perceber que o que me mata não é aquilo que vejo, mas sim o medo de não ver. De não sentir, nem amar. É uma cegueira constante, que me abala e retira todos os movimentos espontâneos que o meu corpo ainda consegue transmitir fraca e estranhamente. Até que de todos os monstros calados e sérios que voam sobre mim, surgiu um pacemaker para o meu coração. O medo de não ver sumiu com o vento, e este por sua vez trouxe rajadas calorosas para o meu pequeno corpo. Aquele pedaço de história que fiz questão de fechar, reabriu-se em mim como um fôlego e desejo constante, que me aviva a memória e reanima o meu pequeno músculo.   
Leva-me daqui e tira-me do abismo. Leva-me para bem longe do que alguma vez eu poderei encontrar, até porque não gosto de me perder sozinha.


2 comentários:

Anónimo disse...

Adoro a maneira como escreves e te exprimes! Para além de me identificar e de estar a passar pelo mesmo, parece que fui eu a escrever!

Sandra disse...

muito bom! fiz follow , gostei muito do blog :)